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O REI NÃO ESTÁ NU, ESTÁ DE FRALDA! Valei-me Qorpo-Santo!
*Jorge Bandeira


O Rei geriátrico é posto em cena na peça HOJE SOU UM: E AMANHÃ OUTRO, pela Cia Vitória Régia, regida por Nonato Tavares, na sequência de uma trilogia programada para este singular e inclassificável autor doTeatroBrasileiro: Qorpo-Santo. O ciclo fecha-se, segundo nos indicam, com “As Relações Naturais”. Vamos à peça: O regime político aos frangalhos, um reinado louco que está perdido nas próprias burocracias que engendrou, mas trata-se de uma farsa barroca, onde o encenador prioriza o que de melhor encontra-se em Qorpo-Santo, o brincar na cena, a liberdade sem limites no criar as mais prosaícas circunstâncias que fazem da trama uma delícia de se acompanhar, feito súditos da insanidade. E a brincadeira não nos deixou nestes 40 minutos em que pontificou este rei, da mesma linhagem que fez surgir, tempos depois, obviamente por pura coincidência, o UBU REI de um certo Alfred Jarry.

A inserção dos elementos “regionais”: o boi, a toada, os políticos locais, nada escapou dos éditos e decretos lunáticos deste barroco rei, que ostenta como forma ultrapassada, a linguagem quinhentista. Isso nos meados do século XIX,, quando o romantismo que envolvia a realeza no Brasil já estava sucumbindo às trapaças republicanas, ou seja, o Rei já está velho, caduco e as fraldas devem ser colocadas nele para que a merda real não escorra pelo palácio, para que o poder republicano não entre com sua higienização e peça a cabeça do Rei, como aconteceu na Revolução Francesa. Coisas do poder, uns estão equilibrados nele, enquanto outros tentam entrar e se locupletar dele, de qualquer forma ou meio. Maquiavélico Rei, mas que trama apenas em sua incapacidade de ser são, lúcido.

A montagem de Nonato Taveres é de uma elegência em detalhes, como é de praxe em suas obras. A roupa como estética do barroco acompanha o zeloso trabalho de Koia Refkalefsky(que também é a Rainha), e importante destacar que este barroco funciona com poucas variações cromáticas, onde o vermelho e o negro são as mais evidentes no palco, o que facilita a iluminação, com precisas alternâncias de focos e de refletores e suas tonalidades.

O quinhentismo linguístico foi uma opção de garantir o registro da época de Qorpo-Santo, e a cavalaria galopa de forma absurda, e lembra os cavaleiros medevais do Monthy Pyton no “em busca do cálice sagrado”. As referências a Alfred Jarry e ao clássico personagem do Ubu Rei são notórias, e que coroa de Rei é aquela, o efeito cênico é deslumbrante, não dá para imaginar mais aquele Rei sem a sua estonteante coroa. A pomposidade do figurino, a maquiagem, tudo foi calculado com zelo máximo pela produção e pelo encenador.

A loucura pelo poder atravessa etapas históricas, e prossegue por toda civilização, antiga e futura, e entre a tênue linha entre sanidade e loucura, encontra-se o poder, os mandatários, semi-loucos num mundo que teima a se tornar curado, uma tarefa vã, de terrível constatação. Qorpo-Santo já alertava em seus textos sobre estas questões paradoxais, existencais e políticas. Vivemos a insanidade de nossos refluxos de lucidez. A música na medida certa, sem arroubos desnecessários ,fazem da sonoplastia ao vivo desta obra de 40 minutos um espetáculo meticuloso, não barulhento, que chega aos ouvidos de forma suave, mas contundente.

As damas que acompanham a Rainha são involúcros de uma disfarçatez, dançarinas provocantes de um boi bumbá de “Paristins”, por isso que o Rei passeia em seu boullevard de Versailles. Para relaxar, para se esquecer...Os Soldados, com seus figurinos à la sadomasoquismo, lembram os centuriões na versão moderna das dominatrix. Os decretos absurdos pululam deste palácio feito colônia de loucos, onde o ministro tenta, em vão, subverter uma ordem, claro que não consegue, pois o caos domina sempre o ambiente, mesmo nos momentos de aparente controle físico e emocional do Rei, mesmo nos seus destemperos de personilidade e na sua senilidade.

Um dado curioso e que remete aos aparatos da nobreza no Brasil: nos tempos do império realmente havia uma equipe que tratava da higiene do Rei, e alguns tronos tinham um fundo falso, espécie de vaso sanitário, para quando o Rei participasse de uma longa reunião não precisasse interrompê-la, evacuando ali mesmo no “trono-vaso”. Um escravo, então, recolhia a merda real e a levava no penico real para a rua real. Era desta forma mesmo. A Atualidade em Qorpo-Santo é incontestável, e por mais que seja uma precipitação e até mesmo preciosismo patriótico vincula-lo às vanguardas teatrais que o sucederam, é notória sua capacidade de inovar nas letras e na dramaturgia feitas naquele momento histórico, nos meados do século XIX.

Um teatro límpido e objetivo, de uma trupe que funciona perfeitamente bem no que se propões a colocar em cena, e mesmo que algumas falas tenham se “atropelado” ou que engasgaram na voz da Rainha, tudo isso é irrelevante, pois a perda de voz da Rainha também representa no meu ensejo de observador não implacável, a própria fraqueza do poder real. A Cenografia econômica de Nonato Tavares, um bobo musical e um trovador que são este duo da sala real, tudo se encaixa nesta proposta de cena. Uma cena, aliás, que de tão simples levou o público a aplaudir o “voo da cavalaria”, num movimento tão simples, mas que transmitia uma maneira de brincar e de sonhar, tal qual uma Cavalgada das Valquírias num palco onde este mesmo público fez esforços pendulares com a cabeça e pescoço, este um único problema a ser resolvido, evitar este incômodo ao espectador, pois o mesmo plano de cadeira no palco do Teatro Amazonas impossibilita visão total das cenas. Mais isso não chega nem a coçar, pois o riso aparece e depois a gente trata do torcicolo. E viva o Rei!

*Jorge Bandeira é dramaturgo, autor de A Carroça de Pandora do Largo de Sabá Tião I e II.

Manaus, 10 de outubro de 2010.



ESPETÁCULO DESATINADO E DE MAU GOSTO
Barbara Heliodora
O Globo - 09/03/2006
Há algumas décadas que é feito considerável esforço para integrar a obra de José Joaquim de Campos Leão, que adotou o nome de Qorpo Santo, não só como parte legítima da história da dramaturgia brasileira, como até mesmo como grande prenunciador do surrealismo e do absurdo. Produto de uma mente fértil e imaginosa, suas peças não escapam, na verdade, da incoerência e non sequitur da óbvia e dolorosa perturbação dessa mesma mente, e, por isso mesmo, são muito raras as tentativas de encenar os textos do autor. Diante de tamanhos esforços para valorizar o gaúcho Qorpo Santo, fica ainda mais difícil tentar deslindar o que poderia querer o grupo igualmente gaúcho Depósito de Teatro com o desatinado espetáculo intitulado “Dr. QS quriozas qomédias”.
Diretor insiste que autor estava adiante de seu tempo
Como de hábito, no programa o diretor (no caso, Roberto Oliveira) faz elaborados comentários a respeito de suas dificuldades e intentos, fala do problema da busca da linguagem apta a dar vida cênica ao caótico universo de Qorpo Santo, diz que hesita entre o surrealista, o absurdo e o grotesco, e insiste que o autor foi homem adiante de seu tempo. Como de hábito, a sociedade porto-alegrense do século XIX é denunciada como repressiva e responsável pela insanidade de QS. Isso posto, o espetáculo resultante dá a nítida impressão de que, na hora de levar para o palco as supostas comédias, o diretor se deu conta da incoerência e da fragilidade daquilo tudo, e chegou à conclusão de que só o total desrespeito salvaria Qorpo Santo. O resultado é um desastre.
É impossível descobrir qualquer intenção de forma ou conteúdo que justifique a bagunça, a apelação, a chatice e o mau gosto do espetáculo. Há um suposto prólogo no qual o elenco, meio enfaixado em gazes e curativos, atira-se para um lado e para outro, ao som de um trecho de Mozart, e depois o público senta-se em duas arquibancadas, com “voluntários” em cadeiras mais à frente, que não são os únicos, no entanto, a serem arrastados para participar da confusão e da gratuidade daquela série de agitações sem nexo, sempre que possível ao som de trechos operísticos.
Tímida sexualidade vira pornografia adolescente
A essência da direção parece ser a de tornar tudo o mais ininteligível e caricato possível, transformando a tímida sexualidade do texto em uma espécie de pornografia adolescente e circense, mas o elenco (Sandra Possani, Tatiana Carvalho, Diana Manenti, Daniel Colin, Plínio Marcos Rodrigues e Fabiane Alves) parece convencido de que sua artificialidade tem alguma significação, no que está enganado. Como um todo, a encenação não parece ter noção de que palhaçada e confusão não constituem criatividade. Qorpo Santo não pode ser responsabilizado pelo caos que se apresenta no Espaço Cultural Sérgio Porto.

Qorpo-Santo e a Qoisa Poética





Por Anderson Dantas

Ainda permanece no silêncio a grande e misteriosa obra do escritor gaúcho Qorpo-Santo, nascido José Joaquim Campos Leão. E senão no silêncio, sua nau criadora merece mais discussão nos campos onde se embrenhou: poesia, teatro, prosa, relatos autobiográficos, de um escritor que espantou as letras no distante município de Triunfo. Na publicação da Editora Perspectiva (1988), o autor Eudynir Fraga verifica que a Crítica Moderna aponta nos caminhos da obra de Qorpo-Santo, o inusitado das composições, afinando-se com as dramaturgias modernas do Teatro do Absurdo e/ou Vanguarda. Em certo momento ainda vai mais longe, creditando a Qorpo-Santo a invenção do Teatro do Absurdo e não a Ionesco, como muitos acreditam.

Muitas pesquisas, encontros e desencontros também fizeram a autora Denise Espírito Santo reunir parte da obra desaparecida do escritor gaúcho, que ficou dispersa no Sul do Brasil. É sabido que boa parte de sua produção foi escrita em 1860 e que em 1877 Qorpo-Santo decide abrir sua própria tipografia. Então, edita seus manuscritos, reunindo tudo que havia escrito até então em nove volumes que ele intitularia curiosamente Ensiqlopédia ou Seis Mezes de Huma Enfermidade, escrito desta forma em obediência à ortografia que o próprio autor inventara:
Os trambulhões em que tenho vivido desde 1864 julho, até o presente 1875 Septembro – obrigam-me a publicar o que hei escripto desde Julho de 1862 – sem ordem quanto às dactas; sem distinção do que produzi antes de assignar-me Corpo Santo, e depois que assigno este nome: sem dividir completamente – proza, de verso como pretendia. O farão meus filhos, se tiverem gosto para estas couzas.

Escolhi a próprio gosto, alguns poemas do insólito escritor que assim compartilho, extraído do belo livro Poemas de Qorpo-Santo, organizado por Denise Espírito Santo, pela editora Contra Capa.





TRIPAS


Chiam-se as tripas,
Quais as fritas
Em frigideiras
Carnes terneiras!
Ou qual caldeirão
De grão camarão,
Ao fogo fervendo,
Barulho fazendo!

Ou qual de água,
Mareta em praia,
Sempre rolando,
Rumores causando!

Ou qual o vapor
Águas sulcando!
Águas saltando,
Rodas molhando!

Ou qual de vapor
Grande estridor,
Águas sulcando
As rodas saltando!






                                 LIVROS


Se os meus livros – abrires,
Muito acharás – para rires;
Muito também tem – para chorar;
E muitíssimo – pra lamentar!
Algum tanto há que aprender;
E muito talvez para saber!






                         VIDA MORAL


Estou sempre estudando,
Estou sempre gozando,
Estou sempre nadando
Em mares extensos,
Em mares suspensos,
Em mares imensos







         MULHERES EXTRAVAGANTES


Só sabem gastar;
Não sabem encher,
Ao fogo botar
- Panela a ferver!

Só sabem comer,
Não sabem fazer:
Ao fogo botar
Arroz temperar!

Só sabem sujar,
Não sabem lavar;
A roupa bater,
E branca fazer!

Só sabem beber:
Não sabem encher,
Ou potes botar
De água a fartar!

Sabem servir-se
- Facas, colheres,
Estas mulheres
E depois, rir-se.

Deixando ficar
Na cinza; criar
Grossa ferrugem,
Que as mãos sujem!

  

Pratos se servem,
Mas não se os lavam;
Antes os babam!...
- Coisa incrível!

Chão não se varre,
Menos soalho.
Filhas, bandalho,
É vosso viver!...

A este traste,
Cujo engaste,
- É pele de cão.
- Corro a tição!

Dar-lhe-ei com pau,
A ver se o mingau
- Das ventas tira:
Longe atira!

Nesta suvela,
Toco chinela;
Não se derreter;
Trabalhar, cozer!

Esta gamela
Sempre à janela
Prostituta está.
Mister levará

Bons socos, tantos,
Com os longos mantos,
Finos bordados,
Se façam picados!


A esta rota,
Que anda de toca.
Meto taboca
Dentro da boca!

Da outra que tem
A boca torta,
Bato na porta
Cabeça morta!

A tal corruira,
- Parece mentira!
A saia vestira
- Ornada de embira!

A boca de lontra,
Quando se encontra
Com cheia tigela,
A mete na guela!

A língua de trapo,
De cobra ou sapo;
- Está sempre palrando,
- Está taramelando!

  
   



DITO


                   Antigo é o dito;
                   - Sempre ri – se o diabo,
Quando infeliz pobre
- Ao feliz dá; ao rico!





VIDA

Dizem que – viver é doce;
Dizem que viver é agru!
         - É ilusão,
Em que vivem tantos entes;
Eu digo – impertinentes –
         Campos Leão

         Viver – é doce:
         E sempre – doce!
         Se assim não fosse,
         Tudo se – ia!
         Ninguém se ria!
         Ninguém vivia!















Anderson Dantas, gaúcho como Campos Leão (mediúnico?!) Publicou os livros SCHATTEN, Gravuras Nocturnas (poemas) e A Leveza de Leonardo (Novela) e possui uma dezena de livros inéditos de poemas, contos e novelas. Na web possui o blog:http://albumzutico.blogspot.com e participa do blog e grupo de discussãohttp://linguaepistolar.blogspot.com


tempo psicanalitico

O peso da letra em Qorpo-Santo

The importance of the letter in Qorpo-Santo


Luís Fernando Barnetche Barth
Psicanalista e Psicólogo; Doutor em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Professor Adjunto do curso de Psicologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Rondonópolis/MT



RESUMO
O autor parte de uma comparação entre a controvertida obra do dramaturgo José Joaquim de Campos Leão - autonomeado Qorpo-Santo - e as memórias de Daniel Paul Schreber, enfatizando os efeitos do significante e da letra na organização do delírio e sua manifestação no corpo. O autor destaca também a maneira peculiar de a letra, tal qual preconizada pela psicanálise, concorrer para a constituição de um sujeito psíquico, nos casos em que o autor é, ao mesmo tempo, autor e objeto de sua escrita.
Palavras-chave: Qorpo-Santo; letra; significante; corpo; psicanálise.

ABSTRACT
The author begins with a comparison between the controversial work of the playwright José Joaquim de Campos Leão - self-proclaimed Qorpo-Santo - and the memories of Daniel Paul Schreber, emphasizing the effects of the signifier and of the letter in the organization of the delirium and its manifestation in the body. The author also highlights the peculiar manner in which the letter leads to the constitution of a psychical subject, such as through psychoanalysis, in cases in which the author is at the same time author and object of his writing.
Keywords: Qorpo-Santo; letter; signifier; body; psychoanalysis.



O sábio - sempre adivinha.
Qorpo-Santo
A superfície branca da folha de papel e, mais modernamente, a de um programa de texto no computador se nos oferecem como tela à materialidade da escrita. Interessa-nos investigar os casos nos quais o ato de escrever implica a reinvenção do autor, mais exatamente, os casos nos quais a urdidura da trama literária, com todas as suas possibilidades, não se mostra suficiente para dar vazão aos conflitos da alma do escritor. Mais do que o domínio do conhecimento da língua e das técnicas de composição literária, o aspecto inovador da língua é a vereda encontrada como forma de constituição do sujeito psíquico e de sua cura e é o meio pelo qual, para aquém do jogo dos significantes, a letra faz sentir o seu peso. Podemos encontrar em Qorpo-Santo um exemplo desta forma de ser, ao mesmo tempo, autor e objeto de sua própria escrita.
Figura mais controvertida da dramaturgia nacional, cuja obra ou é considerada fruto de uma mente genial, por uns, ou produto de uma mente perturbada, por outros, José Joaquim de Campos Leão nasceu em 19 de abril de 1829, na vila do Triunfo - atual município de Triunfo - no estado do Rio Grande do Sul. Em 1839, depois de percorrer várias localidades do interior e já órfão de pai, mudou-se para Porto Alegre onde estudou gramática e trabalhou no comércio. Entre os anos de 1850-1855 exerceu o cargo de professor de primeiras letras no magistério público.
Em 1851, José Joaquim criou um grupo de representação teatral. Casado desde o ano de 1856 com Inácia de Campos Leão, com quem teve três filhas e um filho, um ano depois de seu casamento mudou-se com a família para a cidade de Alegrete onde fundou um colégio de ensino primário e secundário, ocupando os cargos de professor e diretor. Com este mister, adquiriu respeitabilidade como figura pública, chegando a escrever para os jornais locais. Em 1860, José Joaquim foi eleito vereador desse município gaúcho, exercendo também as funções de delegado de polícia e comerciante.
Foi entre as idades de 30 e 34 anos que, acreditando-se santo e encarregado de uma missão divina, José Joaquim resolveu adotar o pseudônimo de Corpo Santo, mais tarde grafado como Qorpo-Santo, comparando-se a Jesus Cristo em seus escritos. Essa ideia obrigou-o a viver afastado das mulheres para manter a santidade de seu corpo. Crédulo no fenômeno da transmigração das almas, afirmava encontrar-se com o espírito de Napoleão III, entre outros.
Ainda que José Joaquim fosse um monarquista conservador, sua escrita dá mostras claras dos chamados desejos carnais, desvelando um universo onde erotismo, sensualidade e escatologia se fazem presentes. Em "As relações naturais", por exemplo, há insinuações de incesto e na peça "A separação de dois esposos" as personagens Tatu e Tamanduá formam o primeiro casal homossexual da dramaturgia brasileira.
Em 1862, Qorpo-Santo dava mostras de sua doença mental. As autoridades escolares, suspeitando de sua sanidade, obrigaram-no a ser internado em um sanatório com o diagnóstico de exaltação cerebral, que era umamonomania observada no exercício da escrita. Em consequência disso, a esposa solicitou intervenção judicial de seus bens, mas os dois peritos de Porto Alegre encarregados do exame de suas faculdades mentais divergiram quanto à sua sanidade. Mais tarde, em 1868, ele também foi avaliado no Rio de Janeiro, onde os médicos declaram-no apto a administrar negócios e família. Todavia, de volta a Porto Alegre, no mesmo ano perdeu seus direitos civis e seus bens, foi considerado inapto para o magistério e proibido de escrever por ordem médica.
Em virtude das características transgressoras e de vanguarda de suas ideias, em 1873 o escritor passou a sofrer críticas através de artigos nos jornais. Os primeiros sintomas de problemas respiratórios também datam dessa época.
Em 1877, já autodenominado Qorpo-Santo, recebeu autorização para abrir uma tipografia, o que lhe deu as condições para fundar um jornal intitulado "A Justiça" e imprimir seu testamento literário, qual seja, os nove volumes da Ensiqlopédia ou Seis Mezes de huma Enfermidade, cujos textos foram escritos compulsivamente. O papel de baixa qualidade usado nas impressões aliado às suas inovações ortográficas fizeram com que sua obra não tivesse boa acolhida entre os leitores. Desta coleção ainda resta um exemplar de sete dos nove volumes. Dois deles ainda estão perdidos. O sétimo volume foi descoberto pela pesquisadora Denise Espírito Santo mais de 100 anos depois de escrito, contendo 537 poemas do autor. A pesquisadora comenta ainda que sua Ensiqlopédiafoi escrita com um rigor impecável, o que ela acredita depor contra o diagnóstico de insanidade mental (Espírito Santo, 2003).
Qorpo Santo faleceu em 1º de maio de 1883, aos 53 anos de idade, vítima de tuberculose em Porto Alegre.
Foi necessário esperar pela década de 60 do século passado para que sua obra fosse redescoberta e estudada, numa época em que os espectadores já conseguiriam aceitar seus escritos. Rendeu muita polêmica o fato de alguns conceberem Qorpo-Santo como o precursor do surrealismo ou, ainda, do teatro do absurdo. Também não seria incorreto dar-lhe a paternidade do que ficou conhecido entre nós como besteirol, sem deixar de evocar, como faz Fraga (2001), procedimentos expressionistas, futuristas e dadaístas.

ENSIQLOPÉDIA DE QORPO-SANTO E AS MEMÓRIAS DE SCHREBER
A minha teia política tem sido a escrita: seus fios as letras ou as palavras.
Qorpo-Santo
Qorpo Santo é daquelas pessoas que, se tivesse nascido na Europa, seguramente teria servido de inspiração às teorizações de Freud e Lacan. Ainda que sobre a obra de Qorpo-Santo tenham se debruçado psicanalistas, o interesse pelo autor inspirou estudos de literatura e dramaturgia. Quanto a Daniel Paul Schreber, juiz-presidente da Corte de Apelação da cidade de Dresden, coube a ele ter sua obra vinculada ao nome de Freud e, provavelmente, só retomada e alçada à condição de obra clássica em função de sua ligação com a psicanálise (Barth & Folberg, 2008). A explicação disso está não somente no fato de que as narrativas pessoais e relatos de viagens não pertençam ao gênero literatura, mas, como acentua Melman (2006), na própria qualidade da tessitura do texto, ou seja, a resistência ao texto schreberiano é consequência do estilo de escrita desprovido de metáforas. As Memórias de um doente dos nervos de Schreber (Schreber, [1903] 2006) - mais do que memórias, a palavra Denkwürdigkeiten designa feitos memoráveis, coisas dignas de serem lembradas - não têm objetivo literário, uma vez que a obra é inteiramente dedicada à ciência, assim como seu corpo.
O valor do texto schreberiano está na descrição minuciosa e precisa de sua enfermidade, dando azo às teorizações de especialistas no campo da psicose paranoica. Seu objetivo científico pode ser constatado já no início de seu livro ao ele afirmar: "Creio que seria valioso para a ciência e para o conhecimento de verdades religiosas possibilitar, ainda durante minha vida, quaisquer observações da parte de profissionais sobre meu corpo e meu destino pessoal. Diante desta ponderação, deve calar-se qualquer escrúpulo de ordem pessoal" (Schreber, [1903] 2006: 23).
Na segunda série de suplementos que encerram suas memórias, Schreber ([1903] 1984) volta a afirmar que seu único objetivo ao escrevê-las é oferecer-se como objeto de observação científica para o julgamento de especialistas. Schreber ainda ressalta que, na pior das hipóteses, espera que a dissecção de seu cadáver evidencie as peculiaridades de seu sistema nervoso por ele descritas em seu sistema delirante.
O processo delirante de feminização de Schreber é determinado por sua transformação em mulher por eviração, ou seja, pela retração de seus órgãos sexuais externos para o interior do corpo, fazendo surgir órgãos sexuais femininos, e por fantasias místico-religiosas nas quais seu corpo, ao ser fecundado pelos raios divinos, deve gerar uma nova humanidade.
A literatura conhece formas artísticas de lidar com o tema da feminização. Um exemplo é Orlando de Virgínia Woolf ([1928] 1978). Orlando nasce homem, no seio da nobreza inglesa do século XVI, transforma-se em mulher e chega a viver até os anos 20 do século passado. Em que pese o fato de que a autora tivesse uma delicada saúde psíquica que a conduziu ao suicídio, Orlando é uma personagem nascida da capacidade literária de Virgínia Woolf, e as duas, escritora e personagem, jamais se confundem.
As memórias de Schreber são, na verdade, um minucioso inventário de sua constelação delirante e, nele, os elementos gravitam no sentido de que todos os elementos significantes de sua existência estejam ligados, ocupando o seu devido lugar no delírio, ainda que pareçam insignificantes ao nosso entendimento. Aliás, não há elemento anódino que não deva estar organizado em relação ao todo do delírio.
O estudo de Schreber realizado por Freud também nos oferece elementos para pensar a obra qorpo-santense. A proximidade entre o sistema delirante do autor das Memórias de um doente dos nervos e o da Ensiqlopédia ouSeis Mezes de huma Enfermidade são destacados por Marques (1993):

Não será difícil perceber alguns pontos em comum no sistema delirante de Qorpo-Santo e de Schreber, como a obsessão em se fazer fotografar e a busca incessante de uma língua fundamental. Como também a ligação com o sobrenatural. O escritor riograndense, mestre da Maçonaria, de um catolicismo por assim dizer, surrealista, se verá como um duplo de Cristo. O germânico juiz-presidente da Corte de Apelação, em que pese a influência protestante da família e a pedagogia ortopédica de seu pai, irá mais longe e se verá como fêmea de Deus. A mesma dialética entre a saúde e a justiça está presente em seus escritos (Marques, 1993: 65).

A questão temporal é outro ponto de convergência entre os dois autores. A utilização do "ao" ao invés de "am" na declinação dos tempos verbais tanto para o futuro do presente quanto para o pretérito perfeito do indicativo, justamente pelo mesmo valor fonético, cria um problema de conjugação. Este expediente qorpo-santense faz com que passado e futuro se equivalham e, além de causar alguma confusão ao leitor, mostra a liberação de um tempo, tão caro a Schreber quando este fala da abolição da contagem do tempo por um carrilhão inutilizado pelo efeito dos milagres. Qorpo-Santo e Schreber estão irremediavelmente presos ao presente (Barth & Folberg, 2008).
Qorpo-Santo organiza toda a sua produção na forma de uma enciclopédia; uma paródia do conhecimento iluminista como panaceia para todos os males. Sua Ensiqlopédia é um recenseamento de seus escritos, uma tentativa de organização de suas ideias onde podem ser encontradas peças teatrais, poemas, cartas, requerimentos, artigos para os jornais "A Justiça" e "A Saúde", aforismos, interpretações dos evangelhos e tudo o mais que acreditava ser importante registrar para a posteridade.
Com a preocupação única de dar às suas personagens um colorido a partir de uma palheta muito particular, Qorpo-Santo causa uma sensação de desconforto nos espectadores/leitores de suas peças. Fraga (2001) chega a afirmar que o dramaturgo se utiliza da ironia dramática às avessas. Se este expediente é o desconhecimento por parte das personagens de fatos já conhecidos por parte dos espectadores, Qorpo-Santo, ao contrário, dota as personagens de um código próprio, vedando aos expectadores a compreensão do mundo em que vivem.
É neste mesmo espírito que enumera, em um dos exemplares de seu jornal, cinco notícias que ele crê serem importantes. Em primeiro lugar, que, atualmente, é São José o sucessor de Jesus Cristo e não mais São Pedro. Lembremos que seu nome de batismo é José Joaquim de Campos Leão e que, por vezes, faz menção a São José de Leão. As segunda e terceira notícias importantes versam sobre, respectivamente, a devolução de dois ou três exemplares do jornal sem a devida explicação e a entrada de novos assinantes. A quarta e a quinta notícias falam da festa de Nossa Senhora das Dores, criticando as cantoras e o sermão, e sobre o baile do sábado de Aleluia em regozijo pelo enforcamento de cinco judeus que habitavam a cidade (Qorpo-Santo, 2003).
Nessa nota de jornal, observamos a tentativa de integração de elementos aparentemente desconexos, em que suas preocupações místico-religiosas se equiparam aos problemas administrativos de seu jornal e aos acontecimentos sociais.
Em relação à publicação de seu jornal, Qorpo-Santo confessa corrigir os erros repetidas vezes antes de enviá-lo para o prelo, mas espíritos aéreos, como ele designa os conhecidos demônios tipográficos, alteram aquilo que escreve e que tantas vezes corrigiu. Integrando os elementos indesejáveis ao todo de sua empreitada, o autor afirma em uma nota de maio de 1877 que tudo pode ser encontrado em sua enciclopédia, inclusive o erro e a falta (Marques, 1993). Com elementos dispostos em um sistema um pouco menos rígido do que Schreber, em uma nota datada de julho do mesmo ano, Qorpo-Santo autoriza a correção de erros e falhas de composição ou impressão àqueles que quiserem levar à cena qualquer de suas comédias (Qorpo-Santo, 2001).
Outro aspecto da obra de Qorpo-Santo é o uso de neologismos, os quais não poderiam agradar aos ouvidos de uma época marcada pelos poemas românticos e parnasianos, mas mostram-se um recurso poderoso na tentativa de se avançar sobre o indizível do real. Um exemplo está no poema "Necessidade" (Marques, 1993: 89):

Deos diz ao Campos Leão,
- Que siga as suas doutrinas!
Deos não quer concubinas:
Deos quer - copulacarnação!

A preocupação de Qorpo-Santo em aproximar o som da letra também se revela ao afirmar, nas páginas de suaEnsiqlopédia, haver letras masculinas e letras femininas dando toda a ênfase a uma copulacarnação na escrita.
Menos inventiva do que a escrita joyceana, mas mais aprazível de ler do que Joyce ou Schreber, Qorpo-Santo vai, paulatinamente, mostrando-nos o processo de construção de sua linguagem definida pelo não-submetimento à ordem significante como consequência de seu não-submetimento à língua materna. Nas palavras de Marques (1993: 91): "o autor se transforma em ator na cena de sua escritura, enredado na própria trama textual, tragado pela vertigem do descentramento e ao leitor/espectador oferece o gozo de suas múltiplas escolhas".

A LETRA
Se meu corpo está atualmente um composto de letras de modo que não lhe toco que não saia algum pensamento - de que estará composta minha alma!?
Qorpo-Santo
Uma das características da obra qorpo-santense é a forma peculiar de conceber a ortografia. O dramaturgo afirma estar imbuído do desejo de ser útil aos seus semelhantes e, em especial, aos seus alunos levado por uma força irresistível, desde 1862, a ensinar a Ortografia [grafada em maiúscula] de que vai se utilizando aos poucos e ensinando aos sábios. Entre as novas regras, as quais visavam a tornar mais fonético o português, podemos destacar: a supressão do u em todas as palavras nas quais ele não soa; a supressão das letras dobradas; a utilização do q nas palavras em que o x e outras letras tenham o mesmo som do q, como em sexo (seqso); o emprego do g sempre com o som forte que tem nas palavras "gado" e "guerra" (gera), entre outras normas. Ainda que sua reforma ortográfica esteja diretamente ligada à sua condição psíquica, podemos lembrar que algumas de suas sugestões foram utilizadas nas reformas ortográficas posteriores, como, por exemplo, a supressão das letrasy e w e a substituição do ph por f (Qorpo-Santo, 2001, 2003).
Ao ser perguntado se padecia dos nervos, em razão de suas regras ortográficas, Qorpo-Santo respondeu que nervos é doença do corpo e que, se escrever numa ortografia cheia de erros fosse melhor do que numa outra mais simples e racional, asseguraria ser a sua enfermidade da alma, e não do corpo (Qorpo-Santo, 2003).
Desde a "Traumdeutung" freudiana (Freud, [1900] 1972), a letra mostra toda sua relevância na interpretação dos sonhos. Neste sentido, o que está em jogo não é a escrita alfabética tal qual nós a conhecemos; ela aparece como uma escrita cujo valor fonemático adquire destacada importância, ou seja, o aspecto literal pelo qual se aborda o sonho está ligado à estrutura fonemática. Os sonhos devem ser lidos literalmente, decifrados como num rébus, isto é, ler para além do que é dito, ler nas entrelinhas, como uma escrita na qual o valor recai sobre os fonemas correspondentes ao nome do objeto, assim como nas escritas ideográficas, deixando de significar o objeto no sonho. A consideração à figurabilidade do sonho descrita por Freud ganha aqui todo o seu peso, mas devemos advertir que essa é uma escrita de valor privado e dependente da língua do sonhador.
Ao conceber o inconsciente estruturado como uma linguagem, Lacan (1998) vai se servir da linguística de Saussure, e é a partir dela que Lacan dá toda a ênfase ao conceito de significante em sua obra. Para o autor, a letra é o aspecto material do significante, distinguindo-se dele. Lacan estabelece uma teoria da gênese da escrita, ao esclarecer que a escrita, como produto da linguagem, aguardava pela fonetização, o que pode ser encontrado nas marcas exibidas nas cerâmicas egípcias, as quais passaram a ter valor de signos de escrita.
Em "Lituraterra", Lacan (2003) situa a letra como aquela que estabelece o litoral entre gozo e saber. Assim, o significante estaria situado do lado do simbólico enquanto a letra estaria situada do lado do real, marcando seu limite e estabelecendo a erosão do significado. Feitos de cepas diferentes, a escrita e o significante em nada podem ser confundidos.
Se a palavra está mais ligada ao significante, podemos dizer que a letra esteja mais do lado do gozo. Por definição, um significante representa o sujeito para outro significante, pois é incapaz de significar a si mesmo. Todavia, a letra se significa a si mesma e, ao fixar um gozo, ela se basta.
Ao unir o artigo definido ao substantivo langue (língua em francês), Lacan inventa um neologismo, a palavralalangue, traduzida para o português como alíngua, para destacar que o inconsciente se manifesta numa língua e são essas manifestações que possibilitam à teoria psicanalítica supor um inconsciente estruturado como linguagem. Alíngua pode ser entendida como um arranjo significante cuja manifestação se produz ininterruptamente, movida pela força do gozo. Alíngua aponta para uma forma de satisfação do dizer que independe da significação. Se considerarmos que o inconsciente é feito de alíngua, a psicanálise é um artifício na tentativa de abordar alíngua. Como parte gozosa da língua, alíngua é intimamente ligada ao corpo e sua estrutura está intimamente ligada à escrita.
Schreber oferece seu corpo à concretização de suas fantasias, corpo sem defesa contra o Outro1, um corpo que não é qorpo, isto é, corpo reinventado na linguagem; o que torna seu corpo mais sujeito ao padecimento. Como exemplo disso, observamos as queixas corporais de Schreber, as quais vão levá-lo, no final da vida, a desenvolver uma Síndrome de Cottard2. Nas palavras de Barth e Folberg (2008: 71):

O corpo humano depende do discurso, da inscrição de significantes, para encontrar sua função adequada, ou seja, enquanto corpo simbólico. Já para Schreber, diferentemente de um paciente neurótico, seu corpo se mostra refratário à metáfora. Nesse caso, sem mediação simbólica, o real do corpo responde diretamente pela incidência do significante. O próprio corpo de Schreber faz as vezes do Outro.

Também não se pode esquecer o peso dado à linguagem no delírio schreberiano. Para ele, Deus fala uma língua própria, que recebeu dele a designação de língua fundamental (Grundsprache), correspondendo a um alemão arcaico, elegante, simples, rico em eufemismos, no qual se utilizam expressões com o sentido oposto ao da língua humana. Qorpo-Santo faz da escrita o prolongamento de sua pele, de seu corpo, e é pela escrita que ele estabelece um novo corpo, uma nova ordem, não menos delirante que a de Schreber, mas com consequências menos desastrosas. Schreber tem um corpo oferecido à santificação pelos desígnios de Deus, este Outro implacável. A seu turno, José Joaquim de Campos Leão se faz Qorpo-Santo, marcado pela língua.
Dado o fundo místico-religioso do delírio qorpo-santense, não seria abusivo remeter a escolha do uso das iniciais Q-S às letras JHS normalmente estampadas nos sacrários das igrejas, as quais designam, respectivamente, Jesus Hóstia Santa, pela comparação de seu corpo santificado e casto ao corpo de Jesus consubstanciado num pedaço de pão.
Se considerarmos que a língua nos castra oferecendo-nos o ordenamento simbólico como uma possibilidade, Qorpo-Santo, ao criar sua obra a partir de sua língua particular, estabelece uma zona de gozo à maneira do corpo materno, uma forma de gozar do corpo materno ao estabelecer uma escrita na qual a relação sexual seja possível, na qual as letras masculinas e femininas fazem copulacarnação. Não seria o hífen que liga as duas iniciais na abreviatura de seu nome a prova da crença na relação sexual?
Na escrita, a letra oferece uma dupla orientação, isto é, quando ligada a outras letras, ela dá significação à instância do recalcado, mas, quando aparece desligada, a letra é capaz de apresentar o recalcado na significação sob a forma de um retorno de um corpo de gozo materno no próprio traçado da letra (Trece, 2003). Todavia, se não há sujeito do gozo e se a letra deve ser lida literalmente, o nome de Qorpo-Santo insistentemente grafado apenas com as iniciais Q-S não nos permitiria a seguinte escansão: "que-esse", "que és?" como uma indagação à sua própria condição de sujeito?
Ao escrever, o escritor diz de si mesmo e se inventa, contornando o real de sua existência.

REFERÊNCIAS
Barth, L. F. B. & Folberg, M. N. (2008). Da pseudociência paranoica à ciência da paranoia. Ágora (PPGTP/UFRJ),XI(1). Rio de Janeiro.
Espírito Santo, D. (Org.). (2003). Uma literatura clandestina. Em Qorpo-Santo. Miscelânea Quriosa. Rio de Janeiro: Casa da Palavra.
Fraga, E. (1988). Qorpo-Santo: surrealismo ou absurdo? São Paulo: Perspectiva.
Fraga, E. (2001). Um corpo que se queria santo. Em Qorpo-Santo. Teatro completo. São Paulo: Iluminuras.
Freud, S. (1900/1972). A interpretação de sonhos. Obras completas, ESB, v. 4 e 5. Rio de Janeiro: Imago.
Lacan, J. (1998). A instância da letra no inconsciente ou a razão desde Freud. In: Escritos (pp. 496-533). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.
Lacan, J. (2003). Lituraterra. In: Outros escritos (pp. 15-25). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.
Marques, M. V. A. (1993). Escritos sobre um corpo. São Paulo: Annablume.
Melman, C. (2006). Retorno a Schreber. Porto Alegre: CMC.
Qorpo-Santo. (2001). Teatro completo. São Paulo: Iluminuras.
Qorpo-Santo. (2003). Miscelânea quriosa. In: Espírito Santo, D. (Org.). Rio de Janeiro: Casa da Palavra.
Schreber, D. P. (1903/2006). Memórias de um doente dos nervos. Rio de Janeiro: Graal.
Trece, L. (2003). O a(r)riscado: reflexões sobre a angústia e a letra. In: Maria Auxiliadora Mascarenhas Fernandes (Org.). Quando uma criança precisa de análise (pp. 101-118). São Paulo: Casa do Psicólogo.
Woolf. V. (1928/1978). Orlando. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.


NOTAS
1 Notação lacaniana que designa um lugar simbólico, o tesouro dos significantes, a lei, a linguagem ou o inconsciente.
2 Quando o delírio de negação de órgãos vem acompanhado de delírio de imortalidade.


Recebido em 11 de abril de 2010
Aceito para publicação em 28 de junho de 2010


Luís Fernando Barnetche Barth
Psicanalista e Psicólogo; Doutor em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Professor Adjunto do curso de Psicologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Rondonópolis/MT. Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) - Campus Universitário de Rondonópolis - Curso de Psicologia Rodovia Rondonópolis - Guiratinga, KM 06 (MT-270) - Bairro Sagrada Família - 78735-910 - Rondonópolis - MT. Tel./fax: (66) 3410-4088 E-mail: barth@ufmt.br