O que vai mal na literatura brasileira?

Décio Pignatari - O Brasil perdeu a oportunidade, tomou uma posição contrária à literatura mundial. Por exemplo: a prosa literária hispano-americana – ela entrou com força total no mundo experimental. De Borges a Puig, nenhum deles deixou de passar pela leitura, atenta e completa, de James Joyce. Eles leram toda a vanguarda e fizeram uma leitura diferente nos seus países. No Brasil, todo o mundo acha que Joyce é elitista, “que ninguém entende”, “bobagem”, “jogo de palavras”. Nós combatemos o experimentalismo e hoje não sabemos mais escrever. Não dizemos absolutamente nada de novo sobre a situação brasileira ou literária em geral. Nada. Atualmente, a prosa criativa brasileira é de terceira categoria. Quando nos anos 70 houve o boom da grande prosa latino-americana, nós ficamos para trás e hoje estamos a reboque deles. Mesmo no Rio Grande do Sul: quem dá o valor devido para o Qorpo Santo? Pouca gente. Quando eu estive aí nos anos 60 me apresentaram a obra dele, fiquei deslumbrado. Agora mesmo, que foram reunidos quase todos os seus poemas num volume, um monte de panacas – não de críticos literários, esses não existem no Brasil – desancou sua poesia, dizendo que ela não significa nada, que é apenas “mais uma mania de alguns pseudo-vanguardistas“. No entanto, é só ler o poema Linguagem, presente nesta coleção, para concluir que é melhor do que todos os livros de 95% de todos os poetas brasileiros – um verdadeiro prodígio. Sem falar nas suas obras para teatro, que deveriam merecer montagens mais interessantes.
Revista Aplauso

Aos 72 anos, o poeta Décio Pignatari já não é mais um ativista do concretismo, movimento que ajudou a fundar há 50 anos. Mas continua tão polêmico quanto naquela época. Nesta entrevista a APLAUSO, exalta Qorpo Santo e Dionélio Machado e faz duras críticas aos rumos tomados pela literatura brasileira.
Por Cristiano Bastos

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